Como começar a trabalhar como freelancer

Se sonhas com liberdade profissional, horários flexíveis e a possibilidade de escolher os teus próprios projetos, ser freelancer pode ser o caminho certo para ti. Seja como programador, analista de dados, digital marketeer ou designer gráfico, tens à tua disposição um mundo de oportunidades, mas também de responsabilidades.

Neste artigo, explicamos os passos essenciais para começares a tua carreira como freelancer, desde os aspetos legais até à definição dos teus preços.

A realidade do freelancing em Portugal

Portugal é o 20º país com mais trabalhadores freelancers. O ranking da JobLeads, que analisou dados do Online Labour Observatory e do World Bank Group, mostra que esta modalidade de trabalho é cada vez mais procurada pelos portugueses, particularmente pelos profissionais de tecnologias e de desenvolvimento de software, que representam 36,83% do total de trabalhadores freelancer online.

Trabalhar por conta própria dá-te uma liberdade que dificilmente encontrarás num emprego tradicional. Alguns dos benefícios passam pela flexibilidade no horário e no local de trabalho, pela possibilidade de trabalhar com várias empresas ou integrar projetos distintos e pela autonomia nos rendimentos, já que és tu quem define o teu valor por hora.

No entanto, para te tornares num freelancer vais precisar de uma boa dose de organização e disciplina. Vais ter de gerir eficazmente o teu tempo, cumprir prazos e, muitas vezes, desempenhar vários papéis.

Passos legais que deves cumprir

Antes de começar a faturar, é obrigatório legalizares a tua atividade. Eis o que deves fazer:

  • Registar a atividade nas Finanças (Autoridade Tributária e Aduaneira) como trabalhador independente.
  • Escolher a forma jurídica: pode ser trabalhador independente, ENI (Empresário em Nome Individual) ou SUQ (Sociedade Unipessoal por Quotas). Cada uma tem implicações fiscais diferentes, por isso é aconselhável consultares um contabilista.
  • Após o registo da atividade, deves preencher a declaração de início de atividade no portal das Finanças.
  • Inscrever na Segurança Social, se aplicável (depende da tua atividade e faturação esperada), para teres acesso a cuidados de saúde e pensões.
  • Cumprir com as obrigações fiscais: os freelancers estão também sujeitos ao pagamento de impostos sobre os rendimentos auferidos. Deves, por isso, acompanhar e declarar os teus rendimentos às Finanças, pagar os impostos devidos regularmente e manter um registo de todas as tuas transações financeiras.
  • Conhece as regras de IRS e IVA: quando os rendimentos não atingem o mínimo de existência, o contribuinte fica isento de IRS. Em 2023, este valor subiu e os contribuintes ficam isentos de IRS se tiverem rendimentos até 10.640€. Relativamente ao IVA, se faturaste ou prevês faturar até 15.000 € num ano estás isento de IVA.
  • Podes emitir faturas gratuitamente no Portal das Finanças ou na app ATGO, uma aplicação gratuita, disponível para iOS e Android que permite, por exemplo, emitir e consultar faturas ou saber se tem impostos para pagar. 

Consulta este guia para mais informações sobre as tuas obrigações fiscais e contributivas.

Protege-te

  • Cumpre o RGPD: se trabalhares com dados pessoais, tens de seguir o Regulamento Geral de Proteção de Dados.
  • Contrato de prestação de serviços: deves formalizar cada projeto por contrato para que ambas as partes tenham claras as regras de prestação de serviços. Muitos clientes já têm modelos, mas consulta sempre um advogado.
  • Seguro de Responsabilidade Civil Profissional: não é obrigatório, mas é altamente recomendável para te protegeres em caso de litígios.

Uma vez cumpridos os passos acima, começa a procurar projetos nas plataformas certas

O ranking da JobLeads mostra ainda que 48% das maiores empresas nos Estados Unidos (Fortune 500) recorrem a plataformas de freelancers. Há várias plataformas onde podes encontrar projetos à tua medida, em qualquer parte do mundo:

  • Upwork: Ideal para todos os níveis de experiência (entry, intermediate, expert). A inscrição é gratuita, mas a plataforma cobra uma comissão de 10%.
  • Freelancer.com: Tens acesso a muitos projetos e podes apresentar propostas com o teu próprio preço.
  • Fiverr: Aqui crias pacotes de serviços específicos, uma boa opção para começares com projetos simples como dashboards ou aplicações web.

Quanto deves cobrar?

Determinar o valor dos teus serviços é um dos maiores desafios. A título de referência, em Portugal, um Data Analyst aufere cerca de 30.500€ anuais (2.542€/mês ou 15,64€/hora), enquanto um Full Stack Developer recebe em média 34.775€ por ano (2.898€/mês ou 17,83€/hora).

Tens de considerar:

  • Custos fixos (como rendas de espaços ou empréstimos para equipamentos, despesas de internet, software, eletricidade, entre outros)
  • Custos variáveis (deslocações)
  • Carga fiscal

Um exemplo simplificado:

  • Custos mensais: 670 €
  • Horas de trabalho estimadas: 40
  • Custo por hora: 16,75 €
  • Após impostos (23%): 20,60 €
  • Com lucro (30%): 26,78 € por hora

E atenção: este valor pode variar bastante dependendo do tipo de projeto, da tua experiência e da procura no mercado.

Deves tentar perceber quantos clientes estimas ter nos próximos 6 meses para conseguir dividir o custo do valor hora por vários clientes, com ponderação de quantas horas vais passar com cada. Ou seja, se tiveres projetos que requerem mais horas, deves aplicar um peso maior nessa ponderação

Ser freelancer exige mais do que saber desempenhar a tua profissão. Vais precisar de conhecimentos de gestão, legislação, finanças e marketing. Mas, se estiveres disposto a aprender e a adaptar-te, vais colher os frutos de uma carreira com autonomia, propósito e impacto.